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Sick-lit, a literatura que não é moda e que não subestima o leitor

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Se algumas pessoas encontram nos livros uma fonte de entretenimento, outras associam as histórias com a fuga dos problemas da vida real. Se algumas pessoas gostam de ler histórias fantásticas que terminam em um felizes para sempre, outras preferem entrar em contato com problemas reais e tangíveis, que podem acontecer na vida de qualquer um. E se algumas pessoas desprezam esses livros, outras encontram todo o apoio que precisam nessas páginas, capítulo após capítulo.

Em janeiro deste ano, o Daily Mail publicou um artigo (de qualidade um tanto questionável, diga-se de passagem) a respeito dessa “moda” literária, afirmando já no título que a sick-lit é um “fenômeno perturbador” e apontando, no texto, que isso não passa de um modismo – assim como as histórias de vampiros e lobisomens, que estavam em destaque até pouco tempo atrás. A reportagem, é claro, provocou um intenso burburinho na internet, e chegou até o Brasil em uma matéria do O Globo.

Quando a matéria no Daily Mail foi publicada, eu pensei em fazer um post sobre isso aqui no blog, mas deixei para depois e acabei esquecendo. Anteontem, porém, foi a vez da Veja publicar uma matéria sobre o assunto, desta vez defendendo o filão e afirmando que a sick-lit não subestima o adolescente. A brecha foi dada e aqui estou eu.

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Antes de mais nada, quero deixar claro meu profundo desgosto com o termo sick-lit. Além de extremamente pejorativo, eu não acho que esse rótulo valorize nem metade do que os livros desse gênero são. E muito menos o que ele transmite para seus leitores. O nome faz uma brincadeira com a chick-lit, mas de cor-de-rosa essa literatura não tem nada, já que seus personagens lidam com problemas graves como doenças fatais, depressão, anorexia, vício em drogas, prostituição, bullying, tentativas de suicídio e autoflagelação. Sick significa doente, e chamar esses livros de sick-lit quer dizer que eles são doentios, enfermos. Problemáticos, até. E acho que não preciso frisar que não é nada disso, certo?

Eu sempre gostei de histórias de princesas, aquelas com um príncipe bonitão sempre pronto para salvar a donzela do perigo. Eu sempre gostei de terminar um livro com um sorriso no rosto por causa de uma bela história em que tudo acabou bem. Mas eu posso contar nos dedos quantos livros bobinhos abriram meus olhos para problemas reais, pelos quais eu mesma já passei ou pelos quais pessoas que eu gosto também passaram.

Eu não quero dizer que ler livros de fantasia seja questionável (é só ver o índice de resenhas no blog para confirmar que eu adoro um faz-de-conta!), mas sim afirmar que sair um pouco dessa bolha vale a pena. E muito. Chega uma hora em que temos que aprender que a solução para nossos problemas está dentro de nós mesmos.

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“A fantasia dificilmente é uma fuga da realidade. É uma forma de entendê-la”

A adolescência é uma fase delicada na vida de qualquer um. Todo mundo, em algum momento, se sente deslocado, inseguro, como se não pertencesse a algum lugar ou não soubesse que rumo tomar na vida. Todo mundo já foi alvo de uma brincadeira de mau gosto. Todo mundo tem problemas. Então por que não aliar isso com a literatura? Por que não dar uma chance para um autor contar uma história com a qual nós realmente possamos nos identificar? Por que não falar de problemas reais que estão acontecendo na sua escola, no seu trabalho, na esquina da sua rua ou até mesmo na sua casa?

Acho que muitos veículos de comunicação ficam tão preocupados em falar sobre algo que está em evidência que esquecem de ver o lado B – e de falar sobre ele. É fácil taxar Os Sofrimentos do Jovem Werther e As Virgens Suicidas de livros doentios, mas essas histórias, há muitos anos, carregam mensagens que precisam ser debatidas. Não acho que pais deveriam proibir seus filhos de lerem essas histórias só porque elas falam de distúrbios sérios. Eu acho, sim, que eles devem ficar atentos aos livros que seus filhos estão lendo, mas que não devem proibi-los – e, se perceberem que eles têm uma tendência a procurar obras desse gênero, é porque alguma coisa mais séria está acontecendo e que eles precisam de ajuda.

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A questão é… e se essa ajuda estiver nos livros? Em histórias ficcionais que são tão reais, cruas e ásperas que servem de apoio?

Eu só acho que muitas pessoas deveriam repensar a maneira com a qual se referem a esses livros. E quanto ao fato de eles, agora, serem moda e estarem se disseminando por aí… melhor ainda. Quanto mais pessoas conhecerem essas histórias, melhor. Nunca gostei de rótulos, e ver que uma literatura tão importante está sendo vista com olhos errados é algo que me incomoda muito. Se há algo que esses livros ensinam, com certeza não é a melhor maneira de cortar um pulso, e sim a melhor maneira de sair desse buraco que te fez cogitar fazer isso em primeiro lugar. Ainda bem que as editoras brasileiras conhecem o público com o qual estão lidando e não menosprezam isso!

Resenhas já postadas no blog:

Garotas de Vidro | A Lista Negra | A Culpa É das Estrelas | As Vantagens de Ser Invisível

Enfim, tirei uma discussão que estava há muito tempo presa no meu peito! E você, o que pensa sobre a nomenclatura sick-lit? Você já leu algum livro desse tipo? Alguma história te fez repensar alguma escolha? Acha que livros desse tipo podem causar o efeito reverso e incentivar “maus hábitos”? O espaço dos comentários é todo seu ♥


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